TEÍSMO-EVOLUCIONISTA: A AUTOCONTRADIÇÃO
Por Jorge Fernandes Isah
De
todos os absurdos que muitos "cristãos" acreditam e cometem um deles,
sem dúvida, tem uma pretensa áurea intelectual mas que na verdade é
repugnante à razão, algo que vai além do disparate, como uma psicopatia.
Para explicar melhor o que estou a dizer, precisamos entender alguns
termos, ainda que todos os saibam, e eu os descreva resumidamente, nos
aspectos em que informam o suficiente para o desenrolar deste texto:
1)
Evolucionismo ou Darwinismo - termo usado para definir o surgimento da
vida através de causas aleatórias, despropositadas e a partir de matéria
pré-existente. Alega ser científica mas tem seus fundamentos no
materialismo filosófico. Basicamente se contrapõe ao Criacionismo.
2)
Criacionismo - Teoria que afirma ser a vida criada por Deus a partir do
nada, ex-nihilo, com propósito definido [interessa-me apenas o relato
bíblico].
3) Teísmo-Evolucionista - Afirma ser a vida criada por Deus mas através de processos evolucionistas.
O
problema aqui resume-se a solucionar a seguinte equação: como o
teísta-evolucionista consegue conciliar a criação a partir de um Deus
inteligente, sábio, pessoal, proposional e que não utilizou matéria
pré-existente com o evolucionismo que afirma ser tudo obra do simples
acaso?
Primeiro,
há de se entender que o evolucionista pressupõe a cosmologia, visto
seus pressupostos partirem da idéia de que havia material pré-existente
do qual se originou todo o processo evolutivo, visto não ser possível
evoluir do nada, já que do nada não provém coisa alguma. É necessário
que os elementos primordiais para desencadear todo o processo existissem
[interessante que a palavra processo indica mudanças
sistemáticas numa direção definida, visando determinado resultado, o que
os evolucionistas se recusam a crer, apelando sempre para a
indeterminação], do contrário, a vida evoluiria do quê?
Desta
forma a teoria da evolução pressupõe a cosmologia, e ambas pressupõem a
epistemologia, ou o conhecimento. Logo a epistemologia é anterior a
ambas, derivando ou originando-as.
Tanto
a biologia como a cosmologia não podem existir num vácuo, pois é
impossível concordar com a idéia de que o universo existe pura e
simplesmente para então discutir biologia. Primeiro é preciso o
conhecimento para se formular uma teoria cosmológica ou biológica. Se
não há conhecimento de como surgiu o universo, é impossível que a
biologia seja verdadeira, pois "todo raciocínio científico é formalmente
falacioso e não pode alcançar a certeza dedutiva" [1].
Como
a ciência não tem esse conhecimento, a sua base é falsa, e nem mesmo se
deve discutir sobre uma base falsa, pois tornará todo o debate em algo
que não se pode suportar ou sustentar-se além do seu próprio mundo
imaginário, tornando a teoria da evolução uma fantasia tanto quanto o
seu universo.
Como
a epistemologia cristã nos dá respostas claras de que o universo foi
criado por Deus a partir do nada, então, de posse do conhecimento
verdadeiro, é-se possível construir uma cosmologia e uma biologia
cristãs igualmente verdadeiras e justificáveis.
Mas
o dilema do teísmo-evolucionista, ainda que tente resolver a questão
colocando Deus como o Criador, mesmo que ele seja incompetente e
preguiçoso, pois deixou a cargo de forças naturais e do acaso concluir a
sua obra, não será suficiente para afastá-lo do local aparentemente
seguro mas violado pela flagrante contradição.
O
texto bíblico é claro em afirmar que Deus criou o homem, não através de
um processo evolutivo, mas do pó da terra, ao qual deu vida pelo seu
sopro, tornando-o em alma vivente [Gn 2.7]. Se ele não for capaz
de acreditar na criação direta, conforme o relato de Gênesis, estará a
afirmar que a Bíblia não é verdadeira, pois se um só detalhe em suas
páginas for falso, toda ela será falsa. Como a palavra de Deus,
inspirada, inerrante e infalível, se for possível rejeitar um ponto que
seja, estar-se-á a rejeitá-la completamente, e sua autoridade não é
válida. Os cristãos que se aliam ao teísmo-evolucionista, nada mais
estão a dizer do que: "não creio na Bíblia como revelação direta de
Deus"; colocando-os em maus-lençóis diante da fé cristã, pois ao se
rejeitar uma proposição bíblica não se pode ao mesmo tempo "apelar à
autoridade divina para sustentar suas outras crenças" [2].
Não
consigo compreender nem entender essa união perigosa, pois o crente,
para abarcar em sua cosmovisão o evolucionismo, terá de abrir mão de boa
parte da Escritura. Por isso há uma crescente alegorização de Gênesis 1 a
11, de tal forma que eles têm um cunho moral [e uma moral forjada à
revelia da revelação] e não histórico. Mas se levar em conta que toda a
doutrina cristã se baseia no relato de Gênesis como real e histórico, e
que Cristo, Paulo e Pedro, entre outros, confirmaram o que está escrito
em suas páginas como acontecimentos reais, fica cada vez mais provada a
inconsistência dos argumentos dos teístas-evolucionistas; eles não podem
crer nas palavras do Senhor e dos apóstolos sem crer no relato bíblico
da criação.
Toda
a cosmovisão cai por terra, a revelação cai por terra, Cristo cai por
terra, sua obra na cruz também, ou seja, o cerne do Cristianismo e da
Bíblia são colocados em descrédito, e toda a sua unidade e coesão perdem
o sentido. Se a morte já existia antes do homem vir a existência [como o
evolucionismo proclama, é necessário mortes e mais mortes em milhões de
anos para que as espécies se aperfeiçoem pela seleção natural], o
pecado então surgiu muito depois que a morte viesse a subsistir, não
sendo portando a sua causa. E se o pecado não gerou consequências
diretas e práticas na vida humana, em seu sentido corpóreo, metafísico e
real, a Queda e a Redenção não passariam de contos-da-carochinha,
histórias para boi-dormir; Deus estaria a nos enganar e a fazer da
expiação através da crucificação de Cristo no Gólgota, um espetáculo
megalomaníaco e sádico. O que nos levaria a concluir que estamos nas
mãos de um "Deus" cínico e sarcástico. Mas nenhum deles admite essa
possibilidade, porém há proponentes do teísmo-evolucionista que
enquadraram o seu pensamento em outros tipos de ceticismo. A conclusão
lógica desse labirinto é forçar uma saída; rejeitando o único caminho
verdadeiro e possível: o Cristianismo bíblico.
Logo,
o que o cristão-evolucionista proclama? Uma redenção apenas espiritual?
[a soteriologia deles é uma colcha de retalhos; o sustentáculo da
doutrina da salvação passa inevitavelmente pelo Éden como realidade, não
como ficção] Mas, e o que dizer da redenção física que também é
prometida por toda Escritura? De que a criação geme com dores de parto
juntamente com nós esperando a redenção do nosso corpo? [Rm 8.19-23]. E por que Cristo haveria de morrer? E ressuscitar? Para vencer a morte? Mas qual morte?
Como
ficaria a questão do pecado? Qual a justificativa para que Deus
ordenasse a morte, visto que ela faz parte do processo evolutivo? E a
moral? Como um Deus pode exigir moralidade se a sua criação está
incompleta? E ela é a punição sem motivos aparentes; nada além de uma
forma para a vida, ou a vida como um estágio da morte?... O pecado foi o
desestabilizador. A partir dele, tanto o homem como o mundo se
corromperam, e nasceu o caos, e veio a morte. Mas os
teístas-evolucionistas alegam que todo o relato da criação é alegórico,
que o pecado é alegórico e a morte não é literal, não conforme nos foi
entregue pelo próprio Deus. Isso faz com que todo o restante seja
corrompido pela falsidade do princípio. Se o início não é verdadeiro, a
sequência também não é. E alegorizar outras passagens, doutrinas e fatos
não seria difícil. Ao ponto em que qualquer um poderá, ao seu
bel-prazer, desqualificar determinado trecho ou o todo com o mesmo
argumento que se viola a inerrância e infalibilidade da Escritura; o
mesmo argumento que torna Deus indigno e desonrado.
Assim
os cristãos-evolucionistas estão em uma sinuca-de-bico, numa situação
em que defenderão um ponto racionalmente e rejeitarão o outro ou ficarão
sem nada ao defenderem ambos. E ao defenderem, me parece, já estão com
as mãos vazias e amarradas.
Nota: *Escrito e narrado por mim... mas o áudio pode chegar um pouco depois da publicação do texto [narração disponível apenas no texto original]
[1] Introdução à Teologia Sistemática, Vincent Cheung, Arte Editorial, pg. 160
[1] Introdução à Teologia Sistemática, Vincent Cheung, Arte Editorial, pg. 160
[2] Idem. Pg 158.
[3]Texto publicado originalmente no Kálamos [para ver os comentários, clique aqui]
[3]Texto publicado originalmente no Kálamos [para ver os comentários, clique aqui]