Por Jorge Fernandes Isah
Algo
complexo e de difícil definição é o conceito de liberdade. Ela pode
representar várias perspectivas, de vários pontos de vista diferentes, e
serem completamente antagônicos entre si. Daremos uma olhada em como o Priberam define-a:
liberdade
(latim libertas, -atis)
s. f.1. Direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o direito de outrem.2. Condição do homem ou da nação que goza de liberdade.3. Conjunto das ideias liberais ou dos direitos garantidos ao cidadão.4. Fig. Ousadia.5. Franqueza.6. Licença.7. Desassombro.8. Demasiada familiaridade.
A
definição parece restringir-se ao relacionamento entre homens, seja
individual ou coletivamente, mas afeita exclusivamente a eles. É
basicamente sociológica, menos filosófica, não-metafísica, pouco
abrangente.
Uma definição mais ampla é encontrada no Michaelis:
liberdade
li.ber.da.de
sf
(lat libertate) 1. Estado de pessoa livre e isenta de restrição externa
ou coação física ou moral. 2. Poder de exercer livremente a sua
vontade. 3. Condição de não ser sujeito, como indivíduo ou comunidade, a
controle ou arbitrariedades políticas estrangeiras. 4. Condição do ser
que não vive em cativeiro. 5. Condição de pessoa não sujeita a
escravidão ou servidão. 6. Dir Isenção de todas as restrições, exceto as
prescritas pelos direitos legais de outrem. 7. Independência,
autonomia. 8 Ousadia. 9 Permissão. 10 Imunidade.
Aqui
há uma gama de descrições que se aplicam diretamente ao homem, mas que
têm também conotações filosóficas como a definir, por exemplo, o
livre-arbítrio, o qual é, entre outras coisas, o “estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral”; e, ainda que seja apenas uma proposição improvável, “exercer livremente a sua vontade”.
Porém, o assunto deste texto não é discutir o famigerado livre-arbítrio
e sua impossibilidade de garantir a liberdade da indiferença ou o
indeterminismo, mas apenas demonstrar a dificuldade e o campo minado em
que se entra quando a questão é demarcar e, especialmente, aplicar o
conceito de liberdade.
Se
definir liberdade é algo complexo, em se tratando da condição humana, o
que se poderá dizer de Deus? Os cristãos bíblicos concordarão que Ele é
livre; e a Criação resultou de Sua decisão livre, ao decretar que tudo
criado, seja material e espiritual, viesse a existir a partir do nada. É o relato bíblico: “No princípio criou Deus o céu e a terra” [Gn 1.1].
Mas isso significa dizer que Deus teve escolhas? Que num leque de
possibilidades escolheu uma delas? Ou até mesmo a hipótese de não
escolher criar absolutamente nada era provável? Seria possível para Ele
pensar em modelos ineficazes e falhos? Para, então, descartá-los? E
ficar com o mais aceitável ou perfeito? Pode Deus cogitar algo
imperfeito? E o que garante a escolha certa? Em quais bases, escolheu?
Quais foram os critérios que o levaram à Criação? Era-lhe possível não
criar? E qual a certeza de que o plano daria certo? E efetivamente
escolhera o correto? Não parecem variáveis de um pensamento imperfeito, e
não provindos de uma mente perfeita?
Talvez
o grande problema aqui não sejam as respostas nem as perguntas, mas o
fundamento através do qual elas são formuladas. Em linhas gerais,
tentamos entender Deus a partir do padrão humano, como se fosse um de
nós, e estivesse sujeito à mesma imperfeição que resultará na maioria
das vezes em distorções, em inadequações da realidade. Se acredito que o
Senhor é capaz de ter escolhas, no sentido de dar a Si mesmo opções do
que escolher, havendo em princípio boas e más opções, ao descartar-se
uma em detrimento de outra resultará na deficiência do conjunto daquela,
como uma obra “menos perfeita”, não-ideal, enquanto esta demonstrará ser “mais perfeita”. Mesmo que todas as opções fossem “integralmente”
perfeitas, o ato de escolha indicaria que, em algum aspecto, haveria
imperfeição em um ou mais modelos. E se há imperfeição, pode provir de
Deus? A mente absoluta, incomparável, única, e que reúne todas as
qualidades concebíveis, um padrão irrepreensível, impecável e
insuperável em sua própria essência, poderia imaginar o mais remoto e
inverossímil plano? Pode-se imaginá-lo a arquitetar o inacreditável?
Algo que contradiz a Sua natureza? O ser eterno, infinito, perfeito e
santo cogitaria [como a mais improvável conjectura] o que não estivesse
em conformidade com a Sua divindade?
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