"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

09 dezembro 2011

A culpa é do pai [Crônica de uma viagem insólita]



Por Fábio Ribas

Já estávamos há 200 quilômetros da nossa cidade de origem, quando o inusitado aconteceu. “Pai, o senhor quer um chiclete?”, perguntou Ana Lissa. Prontamente, respondi que sim. “Mãe, então me dá dinheiro”, disse Ana para a Lu. Lu se aproximou do carro, espiou pela janela e disse assustada: “Meu Deus!!!”. Todos olhamos para ela perplexos: “O que foi?”. Ela levantou um olhar de descrença, abriu a porta, mexeu debaixo do banco do carro, olhou atrás... “O que foi, Lu?”, perguntei sem saber o que a estaria exasperando. Ela olhou nos meus olhos com olhos bem arregalados e confessou a tragédia: “A bolsa! A minha bolsa! Esqueci a minha bolsa!”.

Na bolsa da Lu, além do óbvio como maquiagem, espelho e uma nécessaire, havia também o cartão de crédito, dinheiro, nossos documentos de identidade, CPF, etc. A descoberta da ausência se deu porque Aninha quis mascar chiclete. Mas é claro que minha esposa não sofre de alguma deficiência que a impossibilite de lembrar de coisas tão essenciais. A culpa não foi da mãe. A culpa foi do pai. Vou contar. Três horas antes da descoberta da ausência da bolsa, fomos pegar nossas filhas que tinham ido dormir na casa de uma amiguinha. Estava tudo combinado, então bem cedo passaríamos para pegá-las e tomaríamos o rumo de Brasília. Assim, hoje de manhã, parei o carro na frente da casa onde estavam minhas filhas. 

- Amor, fecha o carro.
- Para quê, Lu. A gente vai rapidinho. Não vou fechar não.
- Então, eu vou pegar a bolsa para que ela não fique aí.
- Menina, a gente vai rapidinho, ninguém vai passar aqui e roubar o carro há uma hora dessa da manhã.


Mesmo assim, a Lu voltou no carro e pegou a bolsa. O resto da história já dá para imaginar: as mãos cheias de malas e sacolas e outras bugigangas infantis. E a bolsa? Coloca em cima da mesa, depois pega. Assim, por causa de mim, três horas depois, estávamos nós retornando à casa da amiguinha das meninas para pegar a bolsa da Lu. Mas você acha que a nossa viagem se encerrou só por causa disso?! Uma bolsa esquecida? Nada. Vínhamos animados e cheios de planos. Pegaríamos a bolsa e retornaríamos felicíssimos ao rumo de Brasília. Enquanto enchíamos nossas conversas com esses sonhos de viagem e quase chegando na casa onde se encontrava a bolsa: PUM!!! Um terrível barulho se fez. Segurei firme o volante, enquanto tentava entender o que estava acontecendo. O pneu da frente, que ficava do lado esquerdo, acabava de estourar. Como? Só Deus sabe. Paramos e trocamos o pneu. Mas a borracha do pneu (o pneu estava irreconhecível) havia voado na direção do meu retrovisor lateral e, creiam, o retrovisor foi arrancado do carro. Agora, estávamos sem bolsa, sem pneu e sem retrovisor.

A bolsa foi pega logo que entramos na cidade, o estepe deu lugar a um pneu novo (o que nos obrigou a comprar outro novo “por causa do alinhamento do carro”, convenceu-nos o vendedor de pneus), agora, o retrovisor só foi possível depois do almoço, uma vez que a hora avançara e minha cidade fecha o comércio de meio-dia até 13:30. É a siesta.

Estava tarde para tomarmos o rumo de Brasília? Sim, deixamos para o dia seguinte nossa saída. Mas, infelizmente, houve uma nota trágica no desenrolar dessa nossa história. Quando chegamos aqui em casa, minhas filhas vieram em minha direção com as mãos na cabeça e os olhos cheios de lágrima e indignação: “Pai! Pai! Ela morreu! A Tica morreu!”. Neste momento, juro que não acreditei em mais esse item dessa lista tão cheia de ocorrências inesperadas. “Pai! Ela está sem a cabeça! Só o corpo dela está lá. Ela está sem a cabeça!”, diziam minhas filhinhas com os olhos cheios de lágrimas.

Gisele e seus coelhinhos

Tica era um dos setes coelhinhos nascidos recentemente aqui no terreno da nossa casa. O gato a matou nesta noite. “Pai, você disse que a Tica era rapidinha e que o gato não ia alcançá-la!”, disse-me Gisele, cortando meu coração. Mais uma vez, a culpa foi do pai. Sim, acho que me deixei levar pela minha ingenuidade urbana – nunca imaginei que o gato iria conseguir alcançar aqueles coelhinhos tão serelepes e agitados. Depois disso, a minha primeira providência foi arranjar um jeito de salvar os demais coelhinhos do gato tirano. 

Estamos todos bem agora, descansados e curtindo a ideia de amanhã vermos o vovô e as vovós (se Deus quiser!). Entretanto, devo confessar que não me sai da cabeça a incrível ideia de que nossa viagem fracassou hoje não por causa da bolsa, do pneu ou do retrovisor, mas porque tínhamos que voltar para salvar a vida dos outros pequeninos lindos seis coelhinhos das minhas filhas.

FONTE: CASAL 20

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