"A Verdade não precisa de defesa; por si mesma ela se defende. A Verdade precisa ser proclamada!"

10 setembro 2010

Frustrações Proféticas




Por Natan de Oliveira*

O homem tem um defeito que é o do imediatismo.

Em geral os homens são ansiosos e impacientes, desejando que as coisas ocorram na sua vida e na sua geração.
Não são poucos os que eu conheço (cristãos) que acreditam piamente que não irão morrer, e que fazem parte da geração que irá ser arrebatada ainda viva.

O tempo vai passando e eles vão morrendo um por um.

Esta mania de que as profecias devam ou se apliquem a sua geração, acaba gerando certa frustração profética, que só não é mais grave porque os homens morrem antes da frustração se consumar totalmente.

Importante também notar que Deus trabalha com outro sistema de contagem de tempo, e parece ser tardio.

"Porque mil anos são aos Teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite." Salmos 90.4

Exemplos são vários:

- Especulo que Abraão sofreu de tal frustração, uma vez que recebeu a promessa de Deus e acabou morrendo sem ver “materializadas” todas as promessas;

"Disse-lhe mais: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te este terra, para a herdares." Gênesis 15.7

- Jacó, reconheceu no final da vida que os seus anos foram sofridos, e talvez no final da vida com a posição de José, tenha se consolado e sido o que menos se frustrou, mas... também não viu as promessas feitas ao pai e avô se cumprirem;

"E Jacó disse a Faraó:... poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida..." Gênesis 47.9

- O povo que saiu do Egito, com grandes milagres, e o fim de uma escravidão de 430 anos, certamente saiu de lá com uma grande expectativa de na sua própria geração dar entrada na terra prometida, mas... a terra prometida ainda demoraria 40 anos para iniciar a ser conquistada. Morreram todos os adultos no deserto exceto duas pessoas (dos que saíram com vida do Egito);

"Neste deserto cairão os vossos cadáveres... contra mim murmurastes; Não entrareis na terra... salvo Calebe filho de Jefoné, e Josué, filho de Num." Números 14.29-30

- Uma vez na terra prometida, o milagre não caiu do céu... ela teve que ser conquistada cidade por cidade, luta a luta, com muito esforço, e por várias e várias gerações, e com algum retrocesso. A conquista foi lenta, e se deu na medida em que os animais selvagens foram ficando em menor número e na medida em que a iniqüidade dos povos a serem conquistados ia chegando a um limite de tolerância por parte de Deus. Assim Deus ia liberando a conquista na mesma medida que julgava tais povos cruéis e impiedosos;

"Não os lançarei (heveus, cananeus, heteus) fora de diante de ti num só ano... Pouco a pouco os lançarei de diante de ti, até que sejas multiplicado, e possuas a terra por herança." Êxodo 23.29-30

- A medida que os anos passavam e os profetas sinalizavam a vinda futura do Messias, o sentimento da expectativa da vinda do mesmo foi se intensificando, e dezenas de gerações morreram nesta espera;

"E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas... E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa." Hebreus 11.32...39

- O povo hebreu em cativeiro também tinha no coração tal espera, e Daniel estudando as escrituras entendeu que já haviam se passado em dado momento, os 70 anos profetizados sobre a duração do cativeiro do povo. Depois de um tempo, o anjo veio então lhe anunciar que 70 semanas de anos estavam ainda determinadas sobre o povo, e isto dava... que "frustração"... (70 semanas * 7 anos cada) 490 anos ainda a serem esperados;

"... eu, Daniel, entendi pelos livros que o número dos anos, de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de cumpri-se as desolações de Jerusalém, era de setenta anos." Daniel 9.2

- Mas enfim, os anos foram passando, e os 490 anos foram chegando a uma contagem cada vez menor, até que finalmente as profecias precisavam se cumprir, e de tal forma que o velho Simeão quando pegou o menino Jesus no colo, ele disse “Senhor, despede o teu servo pois....”. Certamente não passava (especulo eu) outra coisa na imaginação do ancião, de que o Reino estava próximo (e de fato estava) e que se “materializaria” trazendo grande prosperidade à Israel. Imagino que se ele não tivesse morrido logo após ter visto Jesus, acredito que seria mais um de certa forma frustrado profeticamente;

"Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão... E fora-lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele não morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor... Ele, então, o tomou em seus braços (o menino Jesus), e louvou a Deus, e disse: Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação..." Lucas 2.25...30

- Os apóstolos igualmente apostaram todas as suas fichas na implementação do Reino, e disputavam quem seria literalmente o mais próximo no Reino do Senhor. Imaginavam eles um Reino literal que os libertaria da mão do Império Romano.... Ao final totalmente frustrados não sobrou nenhum só junto ao Senhor quando da sua prisão, e depois só retornaram todos meio envergonhados a se ajuntarem quando souberam que o Senhor havia sido visto após a morte... Se não fosse a ressurreição, a frustração teria sido total;

"Então, deixando-o (os discípulos), todos fugiram. E um certo jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe a mão, mas ele, largando o lenço, fugiu nu." Marcos 14.50...52

- Mesmo após a ressurreição, e agora então sabedores que o Reino era espiritual, que o verdadeiro Israel não era mais o de sangue (nunca tinha sido na realidade), saíram fortemente motivados a pregar as Boas Novas e conseguiram isto por todo o mundo ainda naquela geração... mas... a expectativa da vinda do Senhor para implementar o Reino “literalmente” era grande entre eles, que até mesmo o apóstolo Paulo teve que corrigir que a vinda não seria em breve, e mesmo o apóstolo pode ter sofrido de tal “frustração” pois em um escrito demonstra que de certa forma almejava estar entre os vivos quando do arrebatamento;

"Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento... como se o dia de Cristo estivesse já perto." 1 Tessalonicenses 2.1-2

- O não entendimento correto (escrevo aqui pressupondo que o entendimento correto é o pós-milenista preterista parcial – mas respeito as demais correntes escatológicas) das profecias, levou desde aquela época até os dias de hoje, a que os cristãos marcassem a volta de Jesus por mais de 200 vezes desde o ano 100 (recebi esta lista não faz muito tempo de um amigo);

- E frustração sobre frustração... ele não voltou como idealizado;

Pois bem, vivemos uma geração que sofre do mesmo mal (a frustração profética).

Vivemos uma geração que vive diariamente a marcar a data da volta do Senhor e que colocou Deus em xeque-mate, pois a “Figueira” é a geração de 1948 e Jesus então tem que voltar até que todos os nascidos neste ano ainda estejam vivos... Daria quem sabe 2068?

"Aprendei, pois, esta parábola da figueira... Em verdade vos digo que não passará este geração sem que todas estas coisas aconteçam." Mateus 24.32...34

Mas o Senhor virá neste limite? Provavelmente não. Principalmente porque ele virá inesperadamente como um ladrão.

"... porque o Filho do homem há de vir á hora em que não penseis." Mateus 24.44

Não é como nós queremos.
Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos.

"Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos." Isaías 55.9

É muito provável, mas muito mesmo, que todos venhamos a morrer, a medida que o tempo passe.

Como se curar desta frustração profética?

Minha receita é:

- Entenda que o Reino não é deste mundo, mas com reflexos neste mundo;
- Trabalhe para que o mundo seja melhor e que os valores do Reino sejam levados a todos os lugares;
- Entenda que a sua vida pode terminar a qualquer momento, mas que a perspectiva do Reino enchendo toda a terra como as águas cobre o mar, pode levar ainda muitos e muitos anos;
- Não se omita de atuar na sociedade, ocupe os espaços que ninguém quer ocupar;
- Não seja pessimista quanto ao mundo, nem quanto ao futuro, por mais que as coisas piorem, trabalhe sempre pela melhora, pois o Senhor prometeu que estaria conosco até a consumação dos séculos;
- Creia na promessa do Grão de Mostarda;
- Creia na promessa da Levedação da Massa;
- Selecione o que os seus olhos vão ver: boas leituras, bons programas...;
- Não permita que seu filho e as novas gerações se contaminem com o atual pessimismo global, pregue a eles que o futuro a Deus pertence, mas cabe a nós subordinados a Ele trabalharmos por um futuro melhor a partir da realidade presente;
- Entenda que o sal foi feito para salgar (aqui e agora). No céu, já não teremos função de sal.

"Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar." Habacuque 2.14

É claro que mesmo aplicando todos os conselhos acima, é possível que você ainda seja atacado pelo “vírus” da frustração profética.

Mas entenda que:

- As profecias todas se cumprirão;
- A Escritura não falhou naquilo que ainda não se cumpriu;
- Apenas ocorre, que como os antigos (já listados acima alguns casos) interpretamos a escritura pela duração e o imediatismo da nossa vida de no máximo 100 anos;
- Deus não é mentiroso, apenas tardio (pela nossa perspectiva);
- Viva por fé!

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Porque por ela os antigos alcançaram testemunho." Hebreus 11.1-2

"Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixamos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos COM PACIÊNCIA a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus." Hebreus 12.1-2 


Nota: * Texto gentilmente cedido pelo autor e originalmente disponível no blog "Reflexões Reformadas"

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